Fonte: ClipArt |
Algumas semanas atrás, na aula de alemão, li uma
história fantástica que infelizmente não consigo achar na internet, vou contar
ela bem mais ou menos, resumida e porcamente, mas apenas pra passar a mensagem
e quando encontrar atualizo o post para dar os devidos créditos:
“Era uma vez, num país qualquer, vamos dizer Alemanha,
uma criança nasce com um óculos de lente azul. Ninguém acha estranho, afinal
todos nascem com esse acessório nesse país. Não é possível tirá-lo e, enquanto
ela cresce, tem apenas uma certeza: o mundo é azul! Enquanto isso em um outro
país, vamos dizer Japão, uma outra criança nasce com um óculos de lente amarela.
Ninguém acha estranho, porque todos naquele país nascem com o mesmo acessório. Essa
criança cresce com uma certeza: o mundo é amarelo! Mas o jovem alemão, com suas
lentes azuis, vai morar um tempo no Japão e abre um pouco seus horizontes sobre
o mundo. Ele observa os costumes desse país e resolve escrever um artigo com
muita propriedade sobre a cultura japonesa: o país é verde!”
Acredito que o texto seja bem claro, e ele é uma ótima introdução sobre o que quero escrever: sabe aquele ditado que a vida filtra nossos amigos? Achei que era besteira. No entanto, escolhas como onde morar, estado civil, filhos, profissão, religião, partido político, todos eles são filtros poderosos. Desde que vim morar na Alemanha, percebi que apesar dos mais de 2 mil amigos no Facebook, cada vez que vou ao Brasil, são menos pessoas que faço questão de visitar ou de me esforçar para fazer alguma programação. Cada vez tenho menos contato com pessoas que nunca foram importante na minha vida. Alguns, ainda que tenha tido pouco contato durante o ano, ainda tenho um carinho imenso e fico mega feliz de encontrar.
Mas o que tem me chamado mais atenção ultimamente é de
como política, leia-se hipocrisia e falta de respeito, nos afastam das pessoas,
ainda que online (e consequentemente offline). Desde as últimas eleições, são tantas
pessoas postando cada coisa revelando um ódio que eu não imaginava ser possível
possuir, que infelizmente toda minha vontade de conversar com essa pessoa foi
por ralo abaixo. É que ela não sabe mais falar sobre outra coisa, vira um reclamão
da vida, da política, de como está tudo errado, do país de merda que vive, que
eu tenho sorte de estar longe, e pronto, adeus vontade de continuar vendo suas
postagens. Sim amigo, se a carapuça serviu, você provavelmente está bloqueado.
Ou talvez você seja um dos amigos excluídos mesmo. É completamente ok ter uma
opinião diferente da minha. Acho que é saudável, democrático. Mas é ingênuo
pensar que só você tem razão. Acho bacana quem sabe postar sobre coisas
diferentes do que eu acredito num ponto de vista que eu entendo, ainda que não
concorde.
Da mesma forma que o contrário também é verdadeiro.
Algumas pessoas que nunca fui tão amiga, que só está lá no meu facebook nem
imagina a simpatia tremenda que tenho por ela só por causa dos vários posts
fantásticos! De postar examente o que eu penso, com propriedade, sem atacar
ninguém, mas que eu, confesso, deixei de fazer pela preguiça dos comentários.
E ainda outro filtro importante: a religião. Por que
uma mulher ainda em pleno século XXI ainda usa o Hijab para se guardar aos seus
maridos (feminismo, oi?)? Por que ainda existe pessoas que se confessam com o
padre seus pecados (como se ele não fosse pecador...)? Por que ainda tem gente dando o dinheiro do dízimo
pro pastor (!!)? Sério mesmo que tem gente que acredita em espíritos e reencarnação?
E a macumba no terreiro? Que saco, por que você ainda não consegue respeitar a crença
dos outros? E sim, eu me confesso com o padre regularmente, faço
direção espiritual e vou à missa todos os domingos. Não estou em nenhuma
pastoral no momento por conta da dificuldade da língua, mas sinto muita falta!
Vai morrer esperando o cara que queira que eu use Hijab e me guarde
especialmente pra ele. É completamente contramão dos meus princípios culturais.
Mas acho a coisa mais linda a forma que uma mulher muçulmana fala sobre isso! Não
é porque não é pra mim que preciso fazer piada ou desrespeitar. É assim tão
difícil?
O importante aqui é: não precisa ser da mesma religião
nem evitar falar do assunto. Nem oito nem oitenta. Mas precisa ter um pouco de noção e caridade. O
mundo não é azul, amarelo ou verde. Tudo depende das suas lentes, de onde você
cresceu, o que viu, o que viveu. Ainda assim, confesso que o bonito da
sociedade são as diferenças de como cada um enxerga o mundo. Torna as conversas
interessantes sair um pouco da zona de conforto, sem vomitar as próprias “verdades”
(?), falar sobre coisas que você não conhece e descobrir que tem um mundo maior
que o seu particular. Não temos como tiramos nossas lentes de como enxergamos o
mundo, mas podemos trabalhar um pouco mais a intolerância, política e religiosa,
e explorá-lo!