Fonte: Vampire Service - Uniklinik Aachen |
Faz
quase um ano que moro na Alemanha e desde então eu estava na época de voltar para
o hemocentro mais próximo para doar sangue e nunca consegui me programar. Fiz
um acordo comigo mesma que durante a quaresma eu finalmente iria, claro que só
cumpri na última semana, mas pelo menos eu fui.
A
triagem é basicamente a mesma que no Brasil, a única diferença é que os alemães
são um pouco mais burocráticos com papel. Obviamente o questionário inicial era
em alemão, o recepcionista até me pediu desculpas e perguntou se tinha
problema, eu disse que não, uma vez que meu colega estava comigo e tudo que não
entendesse eu poderia perguntar pela tradução.
Em
seguida fui para a picadinha no dedo, lá a enfermeira também só falava alemão,
mas foi tranquilo com meu básico, uma vez que só precisei dizer se era minha
primeira vez doando sangue e responder perguntas básicas como peso, altura,
etc.
Antes
da doação, o médico precisa assinar a triagem e te autorizar a doar, e aí foi
onde encontrei o problema. Perguntei para a médica se ela falava inglês (apesar
de estar “proibida” de falar inglês no trabalho, me sinto muito mais
confortável com o inglês), e ela já respondeu que não, e que se eu não falo alemão,
não poderia doar sangue. Falei que poderia falar alemão desde que ela falasse
devagar, e aí ela me respondeu que não, se eu não falo e não leio bem o alemão,
que realmente não seria possível. Disse ainda pra eu aprender e depois poderia
voltar. Fiquei indignada, e respondi que meu sangue agora é o mesmo de quando
eu estiver falando alemão!! E aí ela respondeu qualquer coisa muito mal educada
e que ela tinha muito trabalho a fazer (apesar de não entender o alemão,
entendo perfeitamente a grosseria), percebeu que eu não entendi e repetiu: “tá
vendo, você não me entende, você não pode doar”. Até aí todo o diálogo foi em
alemão, mas aí eu perdi a paciência e comecei a responder em inglês e ela
continuava falando em alemão, falei que era muito errado que ninguém tivesse me
avisado antes, porque perdi um bom pedaço da minha tarde de trabalho preenchendo
questionário, levei a picada no dedo que é razoavelmente dolorosa, que não era
justo ser barrada pela língua. Que caso fosse realmente uma necessidade,
deveria ter sido avisada de início. Como ela não cedeu, pedi a pasta com o meu
questionário e documentos, ela não deve ter me entendido porque foi buscar
outro arquivo em branco, respondi que não queria souvenir, só queria meu
arquivo com MINHAS informações, uma vez que meu sangue não seria aceito, não
queria que eles tivessem respostas pessoais com meu endereço, telefone etc. Ela
repetiu que eu poderia voltar quando falasse alemão, respondi que não ia
voltar, que preferia doar quando voltasse para meu país, porque lá eles
precisam de sangue e não rejeitam um doador sem razão.
Enfim, quando saí da sala dela, meu colega estava saindo da entrevista dele com outro médico, e ele me apresentou como a brasileira que eles tinham falado antes. O médico precisava de ajuda para escrever um e-mail em português para um hemocentro no RJ!! Oi? Pois é. Traduzi o e-mail dele para o português e, no fim, ele me perguntou se eu ainda queria doar sangue, que por ele tudo bem, e pediu desculpas pela colega, pois ela não falava inglês.
Enfim, quando saí da sala dela, meu colega estava saindo da entrevista dele com outro médico, e ele me apresentou como a brasileira que eles tinham falado antes. O médico precisava de ajuda para escrever um e-mail em português para um hemocentro no RJ!! Oi? Pois é. Traduzi o e-mail dele para o português e, no fim, ele me perguntou se eu ainda queria doar sangue, que por ele tudo bem, e pediu desculpas pela colega, pois ela não falava inglês.
Ou
seja, no fim deu tudo certo, o problema não é não falar alemão, mas ter o azar
de encontrar um(a) médico(a) mal humorado(a) que não queira se esforçar um
pouco. E nem estou falando que ela deveria ter falado inglês comigo, mas ela
nem ao menos tentou fazer a avaliação em alemão! Uma vez que ela percebeu que
eu não sou fluente no idioma, foi o suficiente para me descartar. O pior de
tudo é que ela é médica de um hospital UNIVERSITÁRIO onde mais de 10% dos
alunos são estrangeiros. Aachen é uma cidade na tríplice fronteira com Bélgica
e Holanda! Fico imaginando quantos universitários não tentaram doar sangue e foram
dispensados por ela!
Enfim,
na sala para a doação propriamente dita consegui me comunicar muito bem com os
enfermeiros em alemão, obrigada (foi ainda outra desculpa da médica, de que se
eu passasse mal não conseguiria me comunicar). Lá me ofereceram um brinde por
ser minha primeira vez: uma camiseta ou uma regata ou ainda uma bolsa. Soube
ainda que a partir da segunda vez, eles dão uma gratificação de 25 euros para
os doadores! Foi quando entendi o porquê tinham tantos doadores! E ainda ganhei
uma sombrinha do hospital como agradecimento pela tradução do e-mail, que
considerei mais como um pedido de desculpas pela má criação da médica. Sério,
qual a dificuldade em dizer: “Desculpa, você precisa entender bem o que estamos
perguntando e eu particularmente não falo inglês, você poderia esperar para ser
atendida pelo meu colega?”. Eu entenderia perfeitamente e ainda pediria
desculpas pelo incômodo. Realmente não sabia que na Alemanha eu seria paga pela
doação, fui com a melhor das intenções, e acredito que não tem outra explicação
além de Deus ter intercedido no momento, afinal, qual a probabilidade de alguém
precisar escrever um e-mail em português?! Hahaha.
Para
quem estiver em Aachen e tem interesse em doar sangue, é só clicar aqui no link da Uniklinik. Independente de ser pago ou não, continua sendo uma boa ação. Com
seu sangue é possível salvar até 3 vidas! As considerações são as mesmas
internacionalmente: vá bem alimentado, com uma boa noite de sono, se hidrate
antes e após a doação e não pratique atividades físicas logo em seguida. E
ignorem comportamentos como esse, felizmente são exceções. Afinal, pessoas de
mal com a vida existe em qualquer lugar!
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