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segunda-feira, 9 de julho de 2018

Myanmar: primeiras impressões.

Vendedor de flores em Yangon, Myanmar

Finalmente entreguei minha tese. Não, ainda não terminei o doutorado, mas a partir do momento em que entrego a tese impressa e documentação, a única coisa que preciso fazer é esperar autorização pra marcar a data de defesa (na faculdade de medicina da RWTH demora em torno de 6 meses). Apesar de não receber mais a bolsa, tenho a devida autorização do governo em permanecer no exterior até a defesa e também pra realizar meu estágio fora da Alemanha. E sim, logo que eu defender o doutorado, finalmente nos mudamos para o Brasil!
Todo mundo me pergunta, mas por que Myanmar?! Não faço ideia. Na real, eu nem sabia onde o país ficava no mapa quando o Tim falou que foi aceito para um estágio aqui. Pra deixar a história curta, logo após aprovação do estágio dele, também enviei alguns currículos e no fim ambos fomos aprovados como estagiários (voluntários) na ONU Myanmar, em Yangon. O Tim está no departamento de drogas e crime (UNODC) e eu vim para a saúde do migrante (IOM/UM Migration).

Bike-táxi.

Já faz 3 semanas que estamos aqui, e finalmente resolvi escrever sobre nossas primeiras impressões. Chegamos em Yangon em plena estação de chuva: basicamente fomos recebidos com chuva e ainda não parou de chover. Fomos recebidos diretamente pela dona do apartamento que alugamos ainda da Holanda. Ela nos buscou no aeroporto, nos levou pra comprar chip pro celular, pra jantar, ao mercado e, finalmente, pro apartamento. Isso já mostra um pouco a personalidade das pessoas locais, só falta pegar na sua mão pra tentar te ajudar com o que for necessário.

Chuva em Yangon (essa tá fraquinha).
O apartamento é simples, mas exatamente como vimos nas fotos. Tivemos muita sorte porque aparentemente muitos estagiários internacionais vem para Yangon apenas com hotel e tenta alugar apartamento ao chegar aqui. Porém, dificilmente consegue-se fugir dos preços já vistos em Airbnb (que são exorbitantes para o padrão do país) ou ainda alugar temporariamente um lugar por menos de 6 meses (a gente fica 4 meses, no caso). Locais não falam inglês, e apartamentos “próprios para estrangeiros” seguem um outro padrão completamente diferente do padrão local, o que deixa o custo bem mais elevado. O que a gente conseguiu é bem meio termo, moramos num condomínio de prédios com portaria e segurança, mas numa área fora do centro onde há maior concentração de estrangeiros.
Como chegamos no domingo com jetlag e começamos a trabalhar diretamente na segunda-feira, na primeira semana só conseguimos prestar atenção na chuva, em como já se sai suando do banho devido ao calor, no trânsito caótico, na chuva,  na falta de calçadas na rua, em como o taxista não é capaz de ler o endereço no google maps, na chuva, e na comida, que, na minha opinião, foi único ponto positivo dos primeiros dias.

Comida de rua em Yangon, Myanmar.

No primeiro final de semana, tentamos sair pra conhecer o centro e foi um desastre. Choveu torrencialmente o final de semana inteiro. Única coisa que conseguimos fazer foi entrar no primeiro shopping e passar o dia lá, infelizmente. No domingo fizemos o passeio de trem em Yangon, mas depois escrevo mais especificamente sobre o passeio com fotos que tiramos do trajeto.

Mercadinho com frutas.

Alguns fatos básicos:
- Não usamos sapatos no local de trabalho: antes de vir estava preocupada comprando algumas roupas mais sociais pra trabalhar e eis que, quando chego, precisei diretamente tirar os sapatos pra entrar no prédio. Hoje estou completamente habituada a usar havaianas diariamente. Não é assim em todos os lugares, o Tim mesmo trabalha de sapatos. Mas definitivamente chinelo é tipo um sapato oficial na rua.
- Eles são extremamente conservadores. Uma vez vim de calça social e blusinha cavada com renda. Look completamente ok, eu juro! Sem decote. Minhas colegas locais me chamaram pra ir comprar roupas pós expediente e fui junto, numa promoção que elas queriam aproveitar. Como não tinha provador, tirei a calça pra experimentar as saias, mas a blusa colocava por cima da minha blusinha mesmo. Na hora de ir embora uma delas deu um grito que tinha esquecido de colocar minha blusa! Hahaha. Foi o dia que percebi que provavelmente não estou usando roupas adequadas pra trabalhar! :D
- É comum ver homens usando saias (longyi) e mulheres com roupas típicas e thanaka no rosto, parece argila, mas é uma pasta de uma árvore local que aparentemente protege a pele do sol e dá uma sensação de frescor. Ainda não testei!
- Não tem calçada. A gente divide a rua com os carros, ônibus, bicicletas e vendedores ambulantes. O tempo todo você leva buzinada e precisa grudar nos carros estacionados enquanto pula poças de água da última chuva nos buracos.
- Ninguém espera você atravessar a rua. Na verdade, essa é uma das maiores aventuras na cidade. As avenidas chegam a ter 4 ou 5 faixas até (pra cada lado), logo, é impossível esperar não ter carro algum pra atravessar. Então você vai atravessando faixa por faixa enquanto carros passam na sua frente e atrás de você. Eles vão todos buzinar, mas não tem o que fazer.

A rua é de todo mundo! 

- Maioria dos motoristas dirigem no lado direito. Ônibus é no lado esquerdo mesmo. Alguns carros mais novos também é no esquerdo, mas é raro. Porém, não é mão inglesa! É uma bagunça e não só por isso. Carros não respeitam outros carros. Ainda que se dê a seta, ninguém vai deixar o carro entrar. Se estiver vindo de uma rua menor pra entrar na avenida com trânsito, o carro na avenida chega a buzinar pra não deixar a pessoa entrar, mesmo que ela fique parada fechando a passagem. Logo, os motoristas são extremamente agressivos na direção, com muita buzina e um fechando o outro. Eu parei de prestar atenção pra não ficar mais desesperada!
- As pessoas encaram. Na Europa, a mistura de raças, nacionalidades, estilos, etc. é tão grande que ninguém se preocupa muito em te olhar duas vezes. E, se fazem, normalmente te ignoram logo em seguida. Com exceção de alguns alemães que adoram dar umas encaradas, mas são situações raras. Enfim, aqui eles te encaram sem escrúpulos, principalmente em locais com menos turistas. Crianças param até de brincar na rua para poder acenar pra gente! Em parques, algumas pessoas já até pediram pra tirar selfies com o Tim! Haha. Mas é importante dizer que eles não fazem por mal, é pura curiosidade. Geralmente eu encaro de volta e dou um sorriso, e recebo outro. Acho simpático.
- Tem lixo em todo lugar. Não há sistema de reciclagem, quase nunca vejo lixeira na cidade, mas lixo tem por toda parte: na rua, em terrenos, no rio. Ratos também. Barata, por incrível que pareça, não vi tantas, mas as que vi já estavam bem-criadas! Eu acredito que deve ser por causa da chuva.

Trânsito e pessoas caminhando na rua pela falta de calçada.

Quanto ao trabalho, é sensacional! Estou ajudando com relatórios, pedidos de financiamento e pesquisa para o projeto de erradicação do HIV/AIDS junto com outras organizações (inter)nacionais e ministério da saúde e do esporte de Myanmar. Trabalho principalmente com médicos discutindo políticas de saúde pública baseadas em dados recentes populacionais. É aquele momento orgulho em vir de um país com reconhecimento internacional na área (SUS) e de abrir horizontes pra novas opções de trabalho quando chegar o momento de voltar pra casa. É experiência muito além da profissional! Tô simplesmente amando! 😊

Bom, e ainda temos muito o que explorar. No final de semana que vem vamos pra Hpa-An. Assim que der, vou atualizando com mais detalhes da vida em Yangon, de outras cidades em Myanmar e mesmo alguns passeios pela Ásia. 

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